Por do sol no pontal.

Por do sol no pontal.
Sem comentários!!!!!!

quinta-feira, 26 de março de 2009

sem título

Um olhar,
Um amar.
Um sentimento distante a invadir uma alma errante,
um vácuo constante expandindo os limites do inconstante ...
inconsciente torna-se a mente,
os entes são tolos sobreviventes.
Extintos espíritos sobrevoam vales de lixo,
expertos abutres a fresca carne de nossa juventude,
talvez Deus nos ajude,
quem sabe meus temores sejam virtudes.

Figura.

O silêncio ecoa pelos muros de cimento trazendo à tona as lembranças do esquecimento, do sofrimento imposto aos tantos seres submissos, aos tantos fregueses do carrasco ... asco, casco de cavalgaduras, armaduras de um guerreiro que enfrentando os monstros de lata tem nas mãos apenas o seu coração ... uma canção lembrando-me a tua visão, não sei qual a música só me contento diante tua figura.
s.d.

Robinsons

Somos os Robinsons presos na modernidade dos nossos dias, nas ilhas privadas das residências cercadas por muros, grades e imensa individualidade.
Naufragamos em um mar de ambiguidades, um certo ar de fragilidade que desvanece os sentimentos de liberdade, que enfraquece a comum verdade, entorpece a mente refletindo parâmetros das classes hábeis ... faces maleavéis a incorporarem máscaras e pinturas laváveis ... se desfazem os sonhos na labuta tributada, na impura lealdade dos homens, na escura tonalidade das vestes magistrais ... papais ... patriarcais.
Mas pensando com maior clareza, temos mais a putrefa silhueta do servo de todas as feiras, que salvos da morte eminente curvam-se aos pés dos senhores sem ventre, incorporando mandamentos ausentes, intensificando a mais valiosa riqueza, mas perdendo-se na mais intensa pobreza ... a realeza sorri diante a nossa ingénua e dócil presença, frente a nossa sempre pronta presteza ... pois perpetuamos os poderes de nossos amos em troca de um bocado de pão e pano, um trocado mal dado que mal consegue alimentar e vestir os corpos aprisionados.
Por fim, nos vejo mais como escravos enclausurados em um novo espetáculo ... espaços não tomados, seres dilacerados a buscar partes de si mesmos na praticidade de uma cidade, urbanidade cerceada da vida, humanidade escondida em uma pilha de gente sem dente, que numa trilha infinita busca os remédios que lhes apaguem as feridas, que lhes confortem o ser, que lhes satisfaçam o querer.
Mal sabemos a direção do sol poente, um nascente ente; que se apresente a rebeldia perdida, pois esta é a única forma de entornarmos o carro dos tempos em favor de nossos sentimentos, em favor dos que de fome estão morrendo ... pavor dos reis e seus segmentos ... tambor marcando um compasso lento ... vento soprando em um sentido contrário ... anti-horário momento remetendo-nos a desconstrução das ilhas e a formação de vertentes paradisiácas ... não bíblicas ... não tisicas ... não míticas.
Basta desta sonolência secular, destas castas regulares ... falta de verdades, que dominam nossos filhos, que perpetuam sacrifícios, ofícios e princípios geradores de principicios, fomentadores de genocídios ... suicidios íntimos nos íntimos pensamentos ... libertem-se seres ausentes, plásticos viventes.
s.d.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Instante

Dedilho as teclas da vida como se fossem flores de uma manha envelhecida. Imagino árvores de pedra e pessoas de alma faminta.



Ouço as trombetas do apocalipse ... a psique ensina contorno de várias trilhas. O pré estabelecido entorna o leite de nossos filhos, levando-nos ao desespero, tentando-nos com o livre fim de um ser eterno.



Possuímo-nos de rezas, das orações sem fim. Adoramos um deus sem rosto, que com a simples onipotência de seu esboço controla tudo e a todos. Tolos seres sem pensamento, entreguem suas cabeças como se fossem ovelhas.



Centelhas faiscam meus elementos, sento-me diante um altar tentando imaginar o que por detrás ... por detrás dos sacramentos divinos, por detrás de palavras antigas que tomam forma nos sonhos de vários mortais.



Por outro instante me vejo diante uma fila de banco. Preparo-me para sacar uns poucos réis que os reis inventaram para as massas subjugar.

domingo, 22 de março de 2009

sem título

Do pouco sábio que sou percebo que não sei viver, que deixei em algum lado um retrato de meu passado, o marco de meus passos, espaço de campos vastos.

Nos tantos cantos do mundo procuro o vulto perdido, canto a música de meus ouvidos, duvido dos tolos bandidos.

Entrei em ocultos túmulos de deuses, vasculho a fundo enigmas dos seres, dos meses que circundam os labirintos da morte, os tantos signos da sorte; em portas de puro marfim penetro em templos de sagrados séculos, calados tetos escondem mistérios de infinitos elos, crimes paralelos.

Fui engolido por armadilhas feitas por inimigos, surgindo ileso diante de olhos surpreso; tentaram em vão me atingir com golpes ligeiros, agressões quase certeiras.

Em algum escrito tive as respostas ao meu pessimismo, ao entreguismo de nada querer fazer, de simplesmente deixar de ouvir a voz de meus sentimentos.
31.dez.86

quinta-feira, 19 de março de 2009

Mentir

Meus olhos estão cansados, já não mais enxergo o outro lado; já não espero ser eterno. Minha mente congelou-se, meus gritos ninguém mais ouve ... o que houve? O que aconteceu com a ternura? Foi ela vencida pela amargura, ou estou só no meio da rua?

Lua, brancura, loucura! Vida estúpida a afogar minhas procuras, minhas tenras aventuras. Vejo-me diante de paredes sem portas, ordas inimigas tramam a minha derrota, mas estas não estarão presentes quando da minha vitória; quando eu finalmente vencer a glória. Não tenho trajetória, tão pouco uma história, mas gabo-me por ter um pouco de memória.

A sua hora, a nossa intensa hora.

Mentir! Mentir! Mentir! Fugir da verdade não faz ninguém sorrir, só faz o mundo triste sentir.

Largar os anos, esquecer os planos, mudar a direção da nave à deriva, repartir os ganhos com todos os humanos, se iludir com os sonhos; depois de tudo extirpar o mal que habita os homos.

Somos tolos, somos povos; somos ovulos. Temos pouco a apreender e manos ainda a ganhar, palmas diante um altar.
oct.30.90

Nunca mais!

Assumo um ar de bravo, grito a todo pulmão tudo o que não é necessário, me finjo de otário. Sento no alpendre vazio mirando um mar imaginário, um lago, um estuário.

Velejo em um barco sem velas, rumando a um abismo sincero; crio alegrias e tristezas nas pontas de uma esfera, nas guerras internas ... garras em minha matéria.

O alvoroço se espalha, o calabouço se espalha; espelham a angústia, a tristeza ... a vida presa nas palavras avessas; acesas.

Rio de mim mesmo quando olho meus tornozelos, meus desajeitos ... defeitos. Volto a recontar-me uma história, uma pobre escola carregada em uma sacola. A hora ... a hora passa sem deixar vestígios, sem os medos do destino.

O dia ... o dia arregaça as suas mangas no labutar sem sentido, no lutar por um pouco de grana; ao acordar me deito na grama. Dramas em um sisudo amanhecer, esqueço das coisas elementares e vejo páginas devorarem imagens, paisagens, felicidades.

As igualdades são utopias falidas, feridas que nunca cicatrizam; que no tempo da noite ironizam os esquemas sociais ... dilemas que nos fazem tanto mal.

Isso tudo é real, é realmente real. Pode não ser natural, mas o homem à tanto abandonou a si mesmo, que um simples adereço vale mais que as sombras esquecidas no cais ... nunca mais!
dec.07.90

Talvez exista a paz.

Talvez exista a paz, em algum lugar ... talvez exista a paz.
Atravessam os anos; todos falando.
Olhamos os campos; devastados campos.
Atravessamos os campos; devastados falando.
A tempestade enegrece a cidade, cai a chuva pesada inundando pobres moradas ... minha namorada ficou nua em uma qualquer estrada.
Para onde iremos? A quem procuraremos?
O sol se esconde diante de tantas insanidades, foge ele da verdade, da maldade ... essa nossa carruagem. Velozes estamos; rumando para a eternidade.
Nos faz falta a coragem de exigir a liberdade, de querer sem temer que estas regras se tornem leis:
Que o judiciário seja justo, que o legislativo seja o legislador e que o executivo seja o executor. A tudo isso soma-se a pureza, única forma de alcançar-mos a grandeza.
Abaixo as teses economicas, pois estas só causam a fome cronica. Lucros, lucros e mais lucros, somente isso importa aos homens mudos, aqueles que nunca aparecem por estarem ocupados à conjugar dois verbos: Eu enriqueço e tu empobreces.
feb.18.91

Olhos vendados, gritos amordaçados.

Me disseram que os meus olhos estavam vendados e meus gritos amordaçados. Não dei bola, não me importei nem um pouco com estes fatos, pois me sinto um escravo.

Serviçal de um senhor feudal andando de bicicleta sem tocar os pedais ... peidais na sala fechada, inalais o podre odor ... exalais o fedor de teu corpo ... o torpor lancará o seu sopro.

Esgoto, deposto, um posto de fronteira beira a curva do pensamento, os loucos detentos se escondem pelos becos de cimento. Uma cidade de verdade, uma cilada em meio a lápides.

Lápis de um número qualquer a desenhar um esboço de aluguel; um traje, um bordel. Todos se vestem à rigor para irem aos céus ... os réus, os reis sedentos de sofrimento querem o teu sangue a todo momento ... são vampiros, quem sabe até detritos.

Atritos e mais atritos povoam as praças e os patibulos. O carrasco ergue a navalha e a leva na direção de tuas palavras, decepando as armas de tua batalha, extirpando o suposto mal de tua raça.

A multidão silenciosa busca o brilho de uma rosa enquanto a roda de ferro esmaga os seus cerebros.
feb.19.91

Entardecer

Não serás morto pelos desejos de outros seres. Caminharás por caminhos tortos por tua própria incoerência.
A paz não se traduz nas palavras dos generais. Explodem as bombas formando crateras hediondas aonde serão enterrados os dilacerados soldados, os esfomeados recrutas levados ao sofrimento.
Horizonte extremo banhado em sangue e lamentos; os terrenos não sabem do mal e tão pouco do bem; querem a vida e para isso se ocupam diante o prazer da morte.
Uma corte em um reino vizinho, reúne-se em volta do ópio daninho. Contam piadas e dão suas risadas, depois saem por aí definindo o destino dos povos.
O equilíbrio do planeta se encontra em completa perda, o peso da decadência surge feroz rompendo as amarras, detonando as palavras. Por isso surgirão as várias medidas, os vários pesos que serão usados para o seu bel proveito.
Me aproveito de uma brecha no tempo e sigo por uma trilha que não me leva a um templo, por onde caminharei contente rumo a um doce entardecer.
mar.03.91

Que belo lugar!

Não encontrei espaço por entre os deuses de coração de aço ... decoração feita de aço, um espaço, um orgasmo. Saltei da órbita de um planeta frio, um rio sem margens de qual lembrança me da calafrios.
Fito com orgulho o meu chapéu de bruxo, um luxo a qual me dou por excluso. Incluo na ata da reunião que todos vão ... vão de mal a pior. Que a luz a cada dia fica mais fraca, que muitos se vão para a França e outros se perdem na busca da esperança.
A procura do cálice sagrado, encontrei muito sangue derramado procedente de seres que não acreditaram em sua pouca sorte. A morte abre suas asas diante o atento olhar de uma faminta águia; esta ave de rapina assemelha-se às muralhas da vida.
Em poucos instantes veremos a nossa frente o concreto e o cimento, impedindo o nosso caminhar junto ao vento ... um convento, um sacramento; labirinto sem nexo nos expondo ao complexo.
Teremos medo da chuva, pois ela não somente inundará como também furará. Estaremos com receio do sol pois este além de bronzear irá nos queimar e então pararemos de respirar, pois o ar nos ameaçará de sufocar. Que belo lugar!
mar.06.91

Enchente.

Despejo os lastros por sobre a murada da cidade, surge a imagem de nossa fragilidade. Enquanto isso a água invade, transborda os limites da tolerância, traz em seu meio pestes e outras doenças.

O cidadão perde a sua morada, ganhando em seu lugar um afluente de lama aguada. Móveis, roupas e outros afins, se vão boiando pela correnteza ... pela avareza da nobreza.
A culpa é das chuvas, das fortes chuvas que resolveram cair ... trair a inoperância dos governantes, dos farsantes eleitos pelos que padecem em seus leitos.

O voto útil torneou-se inútil, pois as balas daquele fuzil erraram a fera e foram cravar-se em várias favelas. Acendem velas para clarear as trevas, pobre luz a lutar uma perdida guerra.
Ferida não exposta à visão, fratura imposta. A pobreza não tem certeza, a riqueza se faz de dona de nossas cabeças. Como gado a caminho do matadouro, rumamos em nossa ignorância para a total submissão. Vai a massa flácida escorrendo pelo ralo das ambições, se vai a massa falida mamar nas tetas da escravidão.

Um país sem berço, um país que insiste em rezar o terço ... um quarto de despejo .... um quinto dos infernos ... um sexto sem sentido!
Feb.26.91

Não é o mundo!

A solidão é como uma pétala de flor do deserto,
um orvalho incerto,
um olhar ...
apenas um olhar eu quero!

Me desespero,
pois teus olhos não mais enxergo;
meu ego se dilacerou,
mas mesmo assim ainda te espero,
te quero.

Sei que não te conheço,
muito menos sei qual é o teu jeito.
Mas uma lembrança insistente,
faz com que voce sempre esteja presente.

As contrariedades são amenidades,
as amizades se desfazem como os raios de sol,
são como vampiros que tem na noite a única liberdade.
Persigo o dia tanto quanto a noite,
transmito minha energia para além das cortinas da vida.

Como uma alma a gritar pelas esquinas,
como uma calma a desfazer a agonia;
finjo que ainda tenho vida,
minto a mim mesmo todos os dias,
me olho no espelho e enxergo um mundo pelo avesso ...
um tropeço
e mais uma vez entorpeço,
me esqueço que de fato nada vale a não ser qual é o preço.

Não me ofereço
e mesmo assim todos querem minha cabeça.
Estou meio confuso,
quem sabe um dia eu mudo,
mas isso não é tudo ...
não é o mundo!

no title!!!!

Vejam quantas grades existem ao nosso lado, estamos presos estando em plena liberdade; sentindo o peso de toda esta sociedade ... uma cidade, idade, puberdade.
Gritos sufocados velejam por este mar de desigualdades, pela lama da maldade ... trama de fidelidade.
Deixando os dades para alguma fraternidade, invoco as pessoas sem senso comum à olharem a sua volta para verificar onde esconderam a verdade.
Sim a verdade! Pois ao contrário do que dizem; a mentira não tem pernas curtas, isto sim, tem pernas longínquas e seculares, abraçando a nós por toda uma eternidade ... realidade.
Letras de um jornal, palavras de um ancestral. Incesto passado de pai para filho desde os primórdios da escrita. Um tempo passado, um falso rastro. Um rosto desesperado, um ser desfigurado.
São muitos os mandantes de nenhum crime, mais ainda são as vitimas deste mesmo delito. Somos nós os réus, juízes e jurados que condenamos a nós mesmos.
Um livro sagrado, segredo não revelado. Um abismo bem abaixo por acaso, um caso sem solução, um vagão em rota de colisão, míssil disparado pelo simples aperto de botão, centenas morrendo então.
Centelhas de um fogo pagão, chamas de um coração. A terra, esta doce esfera adoece pelas mãos dos seus habitantes, destes seres ultrajantes que também destroem o mar, o ar, ou qualquer outro lugar.
Sinto que o frio está por chegar!
ene.02/91

Ausente.

Tolamente me fiz ausente dos presentes. Fingi que não era comigo, que não pertencia à aquela tribo. Todos me olharam com um olhar assustado e murmuraram algo não decifrável. Era decerto um dialeto esquecido, desses no tempo perdido, mas pude ver em suas fisionomias a atonicidade exposta a luz do dia ... na fria e melancólica luz daquele dia.

Tentaram me dar dinheiros para que eu me fizesse um deles. Não aceitei! Declararam-me rei pelos dinheiros que não aceitei. Disse-lhes que a beleza da liberdade era mais forte que a tristeza daquela cidade.

Então pedras reclamaram, lustres balançaram, janelas racharam. O maciço ouro tornou-se opaco, um vácuo criado em um instante passado desmoronou os alicerces desgastados.

Vultos corriam em impensada agonia, lajes caiam sobre ricas especiarias, as ironias desapareciam e as chamas consumiam, engoliam o que restava de bom, assim como todo mal daquela ilha.

Abriu-se a terra como uma cratera sem fim, fluindo desta elementos vitais ... vitrais moviam-se alternadamente, murais de imagens sensoriais clamavam por paz; mortais procuram o cais.

Rolou uma enorme rocha por sobre a face da terra, surgiu a sombra do abutre ilustre ... embuste!

Nada restou daquela podre vida. As avenidas em sangue jaziam, as moradias de ricas famílias já não mais existiam. A riqueza foi exposta à pobreza e o humano tornou-se parte da natureza.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Traça

Os prédios me olham com seu olhar sinistro, corro, fujo, não existo ... não desisto do meu intimo, procuro os bruxos no infinito.
Esquisito me sinto, extinto me acho nos plenos atos do existir; extorquir palavras pouco letradas, faces lavadas. Ouço o instinto a me dizer algo, alguma coisa sem sentido, algum mito destemido; fui rei e agora sou bandido, estou banido dos tempos terrestres, dos templos campestres.
Nesta estreita rua não passam dois indivíduos, serão dois e nenhum caminho, nenhum desvio. Meus cílios se colam no enxergar restrito, as veias abertas consomem a matéria, obstruem a artéria, mais inércia. Falo e reflito sobre os gritos aflitos, vultos tranquilos, espíritos.
Sou um insano sem vida criando textos não explícitos, um gigante adormecido, envaidecido. Transformei o fogo em fogo, a água em água, não acrescentei nada, não modifiquei nada. Passam lentas as horas sobre as bordas de minha memória, sobre as orlas da história; queixo-me ao vento pois ele não pode escutar-me, não pode ajudar-me. Destravo as portas da ilusão e sou jogado nas garras lúcidas de várias paixões ... vejo uma procissão carregando falsos ídolos, protegendo fartos pudores, odores de cheiro maldito, fedores bíblicos.
Mais sabe a traça de livro, pois ela devora as palavras, enquanto nós tentamos guarda-las, tranca-las nos porões de nossa mente, espaços do inconsciente; para nós elas de nada valem por não serem usadas, são simplesmente arquivadas.
14.nov.89

Inquietude!!!

A suprema inquietude desliza pelos nuances do cérebro, desfila por entre dias austeros; brilho de um sorrir eterno.

Mero acaso, é o caso de nossa subexistência, dessa tola sonolência que nos carrega à displicência ... coerência fantasma assombrando o ser humano, concorrência nefasta sugando seres insanos ... anos e mais anos; planos e mais planos; enganos sobrepondo enganos. Somos todos um grande sonho, pois nada nos faz acordar deste pesado sono ... pesado fardo posto em vários ombros, escombros da esperança.

Vejam o que fizeram com a grana! Tornaram-na mais forte que a raça humana, tem ela o gosto da vingança.

Uma aliança militar. Países fora do lugar. Lutar por uma causa injusta, morrer pelo negro óleo, cozinhar miolos num mar de olhos.

Nossos esforços escoam para o esgoto aberto, para o lixo subalterno, para o subúrbio deste planeta estéril.

Ar-ar, terra-terra, mar-mar; mais uma semente a desidratar, mais um sol poente que se faz ausente ... gente que finge ser decente, um doente com aspecto de sobrevivente; um sexto sentido inibindo o destino.

Vazio

Verdade, o extrato de uma fera, uma era de guerra, quem me dera ter nas mãos os segredos da vida eterna; em plena terra tive a chance de olhar por entre as pedras, pelo vão de tuas pernas.

Meus nervos já não mais sucumbem aos gritos de minhas buscas; em minhas lutas não mais existo nos termos de tua figura, não mais persisto em olhar velhas gravuras.

Foi na rua por onde o sangue escorreu, um deus desfaleceu, que tive diante dos olhos o olhar de mais adiante, um enxergar mais distante vendo as musas em uma estante.

A magia tomando conta do ser, modificando seu permanecer, transportando o seu querer; sem querer magoar a tola vida foi a preguiça esmagada em uma avenida, na esquina tão esquecida, espremida entre outras tantas vias, distante da vida.

Não mais existe saída, não mais quero tuas carícias; amiga morte que sorte tenho em de não te ter dado ouvidos, não causar o suicido, não me mandar para o vazio.

Máscaras

Assuma as máscaras de tuas ilusões, destrua as lágrimas dessa enorme solidão, vastidão sem limites a vagar os destinos, caminhar os tranquilos.

Transgrida as leis, bases de poucos reis, frases de nenhum amor; seu odor impresso nas narinas de um amante, teu calor aquece o fogo de um coração sem dono, de um ladrão de sonhos.

Enfrente os males dos sabres, o sangue podre daqueles que não te ouvem; são longe os rios da liberdade, são frágeis os caminhos da pura verdade, são visíveis os símbolos da crueldade.

Nessa era de denso engano, -se corpos a putrefar por sobre a relva, sobre a terra; sente-se o cheiro forte do final humano, o insano ano do nosso porvir ... espante os anjos de tristes planos.

Bandido

Olho a face de meu impróprio ser,
resgato palavras do profundo viver,
sou produto de mágicas na inconstância do existir,
persisto na busca das fronteiras de um país.

Na flor noturna de uma noite serena,
senti o perfume de uma fada menina;
na esquina de muitas vidas,
quis da vida uma única fortuna,
escura lua a brilhar no céu,
desnuda rua a brincar ao vento,
sou elemento de um sonho de bem,
de um bem querer sem fim,
de um luar azul,
mar de fugas nas ondas do prazer,
lugar de bruxas e de reis.

Encontra-se por detrás de cada olhar,
o segredo sentido de um amor esquecido,
de um calor aquecido,
destroços de um bandido.

Cachorros quentes

Um dia durante um sorriso contemplei a beleza dos seres.
Vibrei, cantei e amei com a indecência dos deuses, a displicência, incoerência, subvivência.
Sem magoas ou tristezas deixei o mundo dos mesmos e fui andando em direção ao nada, encontrando o tudo, perdendo a consciência, achando a inocência.
Por entre abismos passei, na relva molhada descansei, muros pulei e em valas desci.
Os punhos, com afiadas lâminas de olhar, cortei; o sangue jorrava espalhando sua coloração por entre faixas de mato, pelos caminhos dos ratos, despertando o apetite dos fartos, que com sua inacabável fome devoram as mentes como se fosse cachorros quentes.

terça-feira, 17 de março de 2009

Só!

Declaro ter vivido apenas em tempos já passados, de ter absorvido as vidas de tantos que cruzaram meu caminho, de ter morrido aos poucos como poucos seres já vividos, de ter visto meus mundos se destruindo nas doces lágrimas dos sonhos infinitos.

Meus sonhos na sua interminável beleza prorrogaram por um maior tempo a agonia final, transcendem a própria vontade do ser, ignoram a maldade dos homens, cegaram as vistas para estas não verem o próprio recflexo.

Vida ... esta minha vida tão fora das orbitas, não seguia nenhum destino, não tinha nenhum ponto de partida, só mesmo os passos vadios marcados na areia bem branca, na poeira dos tempos.

As doces lágrimas secaram e a vida tornou-se um fardo, mas sei que resta muito amor, só me restou o amor, escondido nas armadilhas do ser só!

Aonde

Nenhum lugar para se ir ... para se vir, rir à toa da silhueta reflexa que vemos no espelho ... desalinhada cabeleira ... beira ... à loucura a mente insatisfeita, que se enfeita de sonhos ... sonhos que tornam-se estrondos, escombros de um desejo puro ... mijei bem no meio do muro deixando minha marca como se fosse um cão, um anima que se prende ao instinto indo parar direto no fundo de um abismo ... absinto sendo sorvido aos poucos como se fosse um delicioso líquido ... como se fosse um líquido por vezes sinto estar preso no interior de um vidro ... de-me os seus ouvidos para que eu possa ouvir as vozes dos que estão vindo, caminhando em reverso caminho ... por certo não há um único sentido ... um suave brilho emite o sol antes de estar a pino, antes de ser consumido pela cinza fumaça que produzimos ... poluímos nossa mentes e paisagens, respiramos um ar pesado feito por nossa modernidade ... que saudade daquele dia que nunca vi, aonde, aonde não se sabe aonde, o ser humano vivia em harmonia consigo mesmo.
set 95

s-o-l-e-t-r-a-n-d-o

Soletramos nomes, pronomes ... pormenores nomes que nos ensinam os pré estabelecidos, concebidos de antemão por alguém que não convém recordar ... recortar, recortamos as horas e o tempo, formando um mosaico, um passatempo ... passam horas por debaixo da ponte, como se um rio fosse ... tosse a criatura que se perde na fumaça que fuma, fumaça que ingere nas tragadas e respiradas ... espingardas e outras armas apontadas para as pessoas que passam, que transitam por uma rua, que habitam as tantas ruas ... elevadas pontes servindo de teto, um teto sem estrelas ... um leito feito de papelão e trapos; trapos que vestem bizarras criaturas ... a pobreza anda nua, pela rua nua transitam figuras vestidas apenas pela sujeira, sujeira que se acumula no dia-a-dia ... neste e naquele outro dia, produzimos lixo e luxo que se antagonizam mas se completam, pois um pertence ao outro e o outro se tornará o um ... um pum fedido deixando o ar com um cheiro nada lindo ... pingo de chuva que vence a atmosfera lançando-se à terra, que navega pelo espaço se afundando em guerras e falsas promessas.
Oct.19.95

segunda-feira, 16 de março de 2009

Filmagem

Chove .... as pessoas que se molhem, que se banhem na água destilada que vem das nuvens altas ... vapor que torna-se líquido, líquido que transporta o sólido que jogamos no ar ... poluímos o nosso próprio combustível, defecamos em nossos próprios ouvidos ... grito na rua escura palavras sem sentido, não há destino para os sons que emitimos ... apenas imagens se passam pela tela, pela vela do barco vemos a terra, a erva cresce afoita no jardim das azaleias ou outra qualquer planta ... canta o pássaro um alarido desmilinguido, parece estar chorando ao invés de trovando ... trovoada anunciando a chuva que não para, não param os carros de transitarem, de buzinarem, de se chocarem ... reparem na imensidão que na grande cidade inexiste, somos feitos de aparências, apenas fachadas montadas para as filmagens de uma nova obra cinematográfica ... quem vai e quem fica, diga-me o teu nome e lhe darei um personagem, uma bobagem, uma verdade .... uma metade de uma verdade ... a metade de uma metade de uma verdade ... meia verdade ... metade de uma meia verdade.
Dez.04.95

Retrato

A terra-nave navega ... navega para nós em um espaço sem pressa, nada resta pois da aventura das humanas criaturas ... porque urras? Se de nada adianta a tua desenfreada labuta, nada te atura ... tua silhueta mais se parece com uma estátua ... fria estátua ligada a uma tomada, plugada com o mundo instantaneo que vemos na rede do micro, que temos no microcosmo de um chip ... batata chips ... devoras a crocante batata como se fosse perna de barata ... croc, croc ... mais um trote iludindo nossas emoções, mais um choque acordando-nos das nossas ambições ... passa na rua uma BMW branca, canta a riqueza o seu poder e beleza ... arrasta-se pela rua um monte de trapos que traz dentro de si uma criatura, que atura a fria noite e manha de chuva ... mesma rua e diversas formas e normas ... mesma rua e várias pinturas; quadros pendurados em paredes ou correntes ... palacetes ou calabouços ... nada ouço, escuto ou falo; apenas falho ... apenas valho um reres salário, um trabalho, pois nada faço além de pertencer a este quadro, este retrato que revelamos e ampliamos.
Oct.19.1995

domingo, 15 de março de 2009

No meio disso tudo.

Vi a lua pintando por detrás de muros e a gravata pendurada no varal. A suave luz da lua clareando o escuro da gravata.
Gravata tão surda, tão muda, como os homens do mundo, se esquecem de falar.
Falar ... falar; nossa a tanta coisa a se falar e tão pouco tempo a se escutar.
Não; não sei se o mundo de agora nos deixa tempo, o tempo que temos mal da pra pensar.
E derrepente estou aqui, no meio de tudo isso, sonhando um doce luar, no ar, sonhar. Uma doce lua, lua pra amar.
Amar profundamente, sem laços e sem nós, simplesmente amar.
Amar tardes de amor e as noites ligeiras, ligeiras de amores.
Ahaaa!
Os amores de amor.

Preguntas, isso mesmo, preguntas.

O que vejo além das pessoas em desespero?
O que sinto enquanto me corroí este ácido mundo?
O que ouço são gritos vindos do calabouço?
Quem é este povo de vidro, que finge não ter ouvido?
Qual o louco que busca a vida através dos sentidos?
Qual bicho faminto devorou todos os instintos?
De quem é a miséria que assola toda a nossa terra?
De quem é este busto metálico que puseram no paço?
Quem é este vulto falso em nosso encalço?
De quem são os lábios úmidos de orvalho?
Quais os valores do monetário?
A quem interessa a guerra?
A qual verdade nos leva a matéria?
Os caminhos são escolhidos?
Porque me sinto culpado pelos crimes feitos pelos mandatários?
Porque os homens se iludem com esta falsa realidade?
Porque sou ingênuo a sonhar que sou gênio?
Existimos de fato, ou somente no ato?
Quem pois fogo no mato?
Quem logrou o otário?
Seria a tristeza nossa única certeza?
Seria pedir demais, que nos deixem em paz?
Seria muita ironia sorrir para a vida?
Algum dia darão importância à infância?
Quem paga o pato?
Quem poluiu o espaço?
Quem destruiu nossas laços?
Quem sorriu sem vontade?
....
Transportam das ruas para as telas toda a moléstia e sofrimentos anônimos, mexem com público através de um seriado mundano ... a quantos anos estaremos de nossos enganos, esses estranhos atos que invadem os lares como mato, como a doce lua a refletir vários raios.
Vejamos este progresso insaciável que persegue os homens, que persegue os himens, que constroí imagens e destroí cidades, que mata, fere e interfere no caminho simples da vida ... oh vida benvinda me abrace forte enquanto piso a fundo nos negros vales da avareza humana, na mais feroz das fraquezas ....

oRGASMO!!!!!!

Aos poucos os ombros perdem o espaço, sentem o peso do próximo orgasmo, um espasmo lascinante de um êxtase instante, gozo de amantes.
Um mutante, transmutante de plenos olhos; cheias as vistas de lágrimas solitárias, pálpebras tão inchadas. Visto o mundo por lindos olhos, é tão feio quanto sua porca história, memória de um senil, canil de cães famintos, instintos de lobos vivos, caninos ativos.
Esse sol de uma negra noite, a meia noite brilha intenso em tensos raios lunares, mares de uma vazante, cheia a lua aprisiona os suspiros de amor, gemidos sem dor num mais alto fulgor.
Nos dentes fica presa a carne, o sabor de um corpo no seu suor supremo; línguas passeando pelos poros da epiderme, cantos da pele, arrepios intensos do profundo do ser, delírios imensos no fundir de corpos, no sentir de dois corpos.
13.fev.87

palavras

tolas palavras
soltas no vento
perdidas no tempo
loucas palavras
sem forma
sem rima
imitam a vida
copiam o ser
inventam o lugar
num doce luar
sem começo
nem fim
simples palavras
a toa ... momento
sem fim
nem tormento
livres palavras
a toa ... no tempo
surgindo
rompendo
num doce ... lamento

Pessoa bomba!

Vendo a poeira levantar,
e o sol pintando por entre
escuras nuvens de gelo.
Notei nas alturas do subsolo,
uma triste silhueta,
que caminha cabisbaixa
e sonolenta por entre seres não vivos,
por entre mundos já mortos;
por entre núcleos incertos.
Uma figura sem forma,
uma criatura sem ser,
um corpo sem sombra,
e derrepente ...
se torna uma bomba!

poesiazinha

Qualquer lugar que seja,
qualquer instante que queira,
meu ser;
que grande besteira,
o viver,
uma vazia fronteira,
vadia maneira.
SAO 28.nov.88
Retorna a hora, tensa verdade
Retorna agora a imensa vontade, as partes sem metades
As margens sem realidade
Crianças brincando sem vontade
Transportam as lutas para além da vontade
Finda o último fio da maldade, último suspiro da humanidade
nuvens gélidas de intensa coragem, da mais pura serenidade
a mais comum das verdades.
25.fev.88

sábado, 14 de março de 2009

poetry

Negras árvores de negros frutos
Navegam naves em céu absoluto
Um luto por nenhum defunto
Culto de muitos ocultos
Vulto de muitos bruxos
dos luxos
dos lixos
dos bichos
Gritos de um silêncio
vivos por um momento
extintos sem segmentos
esguios pelos elementos
esquecidos dos pensamentos
sentidos os sentimentos
25.fev.88

poesia

Procuro um alguém,
que me diga
de onde vem
a luz, as estrelas
e o barulho do mar.
Prá que tanto
quero saber?
Prefiro mais,
um sorriso
bonito.
E um lindo luar!

poesia

Uma gota,
uma gata no olho,
no olho vermelho,
vermelho pudor.
Por que tanto receio?
medo do ser,
próprio meio,
meio de vida,
modo de viver,
sonhar, amar.
De uma pessoa,
gostar!
Do mundo,
amar!
Da vida,
viver!

sem título

Planar por sobre este céu cinzento, os eternos abutres, embustes de nossa fragilidade, de nossa cidade. Voar por prédios e fios, médios infinitos, esqueléticos meninos. Apregoam a guerra e a farsa-comédia, nossa era, que merda!
Lutar, brigar; de que adianta pois é podre este lugar ... altar dos sacrifícios diários, ouvidos por todo o lado, malditos emissários. Faz-se parte, faz-se arte, um mundo aparte, um culto a Marte, a morte, ao norte.
Vejo e sinto que ainda existo, um misto de rebeldia e apatia, de mágica e tirania; minhas mãos vazias, minha vida vadia, luzes de uma moradia, pátria sem nenhuma saída, lágrimas não sentidas, não vividas.
São negros os olhos do carrasco, são teus os punhos sem laços, os lábios beijados ao acaso, o vulto que persegue o meu espaço. Pasmo em sentir saudade, tua falta me traz ansiedade, me aproxima da maldade. Sufoco meus gritos, meus instintos carnívoros, meu fosco brilho ... não, não mais suporto esta ilha sem ilusões, esta vida sem paixão, sem o teu coração; amo a minha imensidão.
FEV.01.90

Vênus.

Certa noite conversando com Vênus; a deusa e não o planeta, senti meu sangue tornar-se um ácido, que queima e queima ... teima em fluir a vontade. Meu corpo modificou-se, meu rosto transformou-se, tornei-me amante de uma deusa nua, fizemos amor na lua.
Pelos poderes alcançados por nossa súbita paixão, voamos por mundos distantes, passeamos por estrelas solitárias, vimos a terra com várias tonalidades.
Fomos mulher e homem em uma noite na eternidade, na idade remota de nossa longa história.
Oh deusa de minhas ilusões, volte aos meus sonhos pois meu coração deseja tua paixão, meu corpo chama pelas chamas do teu coração, sou pagão; meus olhos só enxergam tua visão, meus lábios só querem o sabor de tua emoção.
Venha para mim de onde estiveres, quando quiseres, se quiseres; pois sempre te esperarei no leito terno de minha solidão.
13.dez.89

Cidade.

Entalhe, minimos detalhes, maiores idades; a cidade de pedra cinzenta, uma orquestra barulhenta, imagem fumacenta ... acrescenta aos olhos fuligem poluente, vertigem inconsciente.
Métodos, módulos, óvulos; meus miolos ressecando na fragilidade do teu solo, em teu colo sonhei, os teus olhos amei ... cantei lágrimas e infelicidades; agora espero encontrar minha igual metade.
Em qual parte, em qual verdade? A onde encontrarei a arte? Talvez longe de Marte, espaços ao norte de minha morte, sorte!
Estratos baixos, cúmulos altos; acumulo no tempo os ventos e os mares, os lares sem vida própria, os ares de forma insólita ... a minha volta crio símbolos, tolos signos sem nenhum sentido, nenhum objetivo.
Queria ser de forma contrária, queria ter uma memória; mas não posso, não ouso ir contra esta força inconsciente, que me leva ao alto assim como me arremessa ao mais baixo ... por debaixo das vestes carnais, envio sinais a portos e cais, locais não existentes, vitrais feitos com pedaços de gente, formas congruentes.
30.nov.89